Visita
- Rubia Konstantyni
- 21 de out. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 21 de mar. de 2023
Beija-flor passou aqui em casa ontem, desfilou, dançou, rodopiou entre a sala e a cozinha. Faltou-me o ar tamanha a surpresa. Não esperava visita dessas na primeira semana do ano. Ele foi logo dizendo que os tempos andam estranhos para nós, humanos. Quanta amargura espalhada, caras escondidas, festas desaparecidas, será que eu poderia lhe explicar os acontecidos? Por alguns segundos emudeci. Tenho eu o que dizer?
Saiu, do meu rosto, aquele sorriso forçado e uma única frase: que alegria você por aqui!
E o beija-flor espantou-se, chegou mais perto, bem perto, como quem quer te olhar lá no fundo, suspirou três vezes e soltou aquele ventinho feito aromas de jardins. Alecrim, rosa, brinco de princesa, manjericão, margarida, cebolinha e abacateiro. Chorei, lembrei das brutas dores do ano de 2021. Escorreguei meu corpo pela parede, os aromas bambearam as pernas. O pássaro foi embora, ligeiro, tive a impressão de que guardou a
boa nova para a próxima visita.
Vou esperar, esperançar. Demorei a me levantar, peguei uma xícara de café, suspirei eu desta vez, também três vezes e gritei: amor, você viu quem estava aqui? Não.
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